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Benito Di Paula lança álbum de inéditas no dia em que completa 80 anos

Célebre compositor carioca é festejado no primeiro disco com inéditas em 25 anos, 'O Infalível Zen'

O bigode e o bom humor seguem intactos, mas um novo Benito Di Paula surge no horizonte ao completar 80 anos de vida, neste domingo (28).

Autor de clássicos da música brasileira como “Retalhos de Cetim”, “Meu Amigo Charlie Brown”, “Mulher Brasileira” e “Do Jeito Que a Vida Quer”, ele não frequenta mais a mídia desde os anos 1980, mas isso não quer dizer que esteja parado.

“Eu nunca estive na mídia, quem esteve na mídia foi a minha música”, comemora o compositor carioca, que aproveita o aniversário para revisitar clássicos e recuperar rascunhos de canções, com a ajuda do filho, Rodrigo Vellozo.

“O Infalível Zen”, disco que os dois lançam juntos neste domingo e que ouvimos em primeira mão, era um projeto antigo de Vellozo, que queria resgatar canções desconhecidas do repertório do pai e trazê-las para o século 21.

Para isso, ele contou com a ajuda de um time de músicos e compositores da nova cena paulistana que passaram um verniz de modernidade e vanguarda sobre rascunhos de músicas que nunca haviam se materializado.

O disco começou com a aproximação entre Vellozo e o compositor e diretor artístico Rômulo Fróes, quando o filho de Benito gravou canções do paulistano em seu disco solo de 2018.

“Acompanho o trabalho do Rômulo há muito tempo e queria conhecer aquela turma dele, achava que tinha a ver com o que eu estava pensando para homenagear meu pai”, lembra Rodrigo.

A turma referida por Rodrigo, que foi parar no disco, reúne músicos como o saxofonista Thiago França (maestro da Espetacular Charanga do França e integrante do trio Metá Metá), o baixista Marcelo Cabral, o sambista Rodrigo Campos, o guitarrista Allen Alencar, o percussionista Igor Caracas e, claro, Rômulo Fróes.

Juntos, coletivamente, os músicos ajudaram Benito não apenas a finalizar canções perdidas no passado como a compor seu primeiro disco com canções inéditas em 25 anos.

É o terceiro artista veterano que Rômulo Fróes traz para este milênio. Começou com o forte “Mulher do Fim do Mundo” (2015), de Elza Soares, seguiu pelo sinuoso “Besta Fera” (2019), de Jards Macalé, e agora descamba em um dos compositores mais prolíficos e ativos da música brasileira entre os anos 1970 e 1980.

“Está sendo muito curioso trabalhar com o Benito, pelo inusitado desse encontro”, revela Rômulo. “Eu não posso dizer que tinha intimidade com a obra dele e confesso que por muitas vezes caí na falsa percepção de ser uma obra sem sofisticação, vulgar, cafona, como foi tantas vezes acusada pela crítica institucional, mas uma coisa que eu sabia, é que era um artista com uma comunicação popular absurda, como poucos artistas na história, de um sucesso popular só comparável a Roberto Carlos.”

“Depois de trabalhar com artistas grandes, mais alinhados ao meu trabalho, influenciadores diretos da minha música”, Rômulo menciona Elza e Jards, “que, apesar de sua grandeza, são artistas com um alcance popular muito menor que o de Benito, fiquei muito interessado em travar contato com a música de Benito.”

Rômulo explica que tomou um tapa na cara ao descobrir a sofisticação da obra de Benito, longe do personagem caricato que o tornou mais conhecido através da televisão.

Benito é um instrumentista altamente sofisticado, com um jeito de tocar piano absolutamente original, sem paralelo na história da música brasileira, um compositor de muitos recursos, um letrista de muita imaginação, um cantor formidável e um arranjador muito criativo.

“Basta ouvir seus discos com ouvidos livres do preconceito de uma certa crítica elitista, estabelecida durante as décadas de 1970 e 1980 e que ainda nem perderam seu lugar, pra você descobrir a grande música que Benito produziu.”

O próprio Benito, em entrevista por videoconferência ao lado do filho, brinca com a sua importância. “Eu nem sou pianista, sou ‘pianeiro’”, avacalha, lembrando como foi impedido a tocar piano por sua própria gravadora nos anos 1970, por ter se estabelecido originalmente como violonista.

“Sofri muita censura da minha própria gravadora”, reclama o octagenário, que comemora finalmente ter realizado velhos sonhos no novo disco, como ter gravado seu instrumento com matizes nordestinas na autoexplicativa “Um Piano no Forró”, ou registrado a canção que compôs para Nelson Gonçalves, a bela “Meu Retrato”.

E assim o disco abre diferentes universos musicais, explorados profundamente pelo time de músicos reunidos por Rômulo e Rodrigo, que assinam juntos a produção e a direção artística do novo álbum.

“A gente teve o trabalho de fazer uma escuta técnica dos discos antigos do meu pai, para, por exemplo, na hora da mixagem, tentar remeter, claro, com o som de hoje, àquela sonoridade”, lembra Rodrigo. “O som que eles faziam na época era muito incrível. A gente tentou trazer esse lado do som.”

Os primeiros shows desta nova safra de canções reúne apenas Benito e Rodrigo, cada um em seu piano. O primeiro deles foi realizado em São Paulo, enquanto o segundo será no Rio de Janeiro, neste domingo (28) no Vivo Rio, e em Porto Alegre, em 14 de dezembro, no Auditório Araújo Vianna.

Há planos para a realização de shows com o elenco de músicos do novo disco, mas ficaram para o ano que vem.

Bem como a segunda parte do projeto, que ainda não tem nome, mas é um songbook que repassa clássicos e músicas menos conhecidas do artista com grandes nomes da música brasileira, como Demônios da Garoa, Roberta Sá, Juçara Marçal, Rodrigo Campos, Criolo, Mariana Aydar e Teresa Cristina.

Com direção e produção de Rômulo e Vellozo, esta segunda parte já está quase gravada e deverá ser lançada no meio de 2022.

Nascido em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, Benito di Paula estabeleceu-se em São Paulo no final dos anos 1960, quando iniciou sua carreira fonográfica, pouco a pouco tornando-se um dos maiores vendedores de discos do país – atingindo mais de 50 milhões de discos vendidos até hoje.

À medida em que foi se tornando conhecido, assumiu um visual que o consagrou – os cabelos compridos, o farto bigode e o cavanhaque, além de brincos, pulseiras e anéis, o que o transformou num artista muito reconhecido graças à ascensão da televisão no país.

Tornou-se um dos principais nomes do chamado “sambão-joia”, gênero que reunia artistas como Luiz Ayrão, Agepê, Luiz Américo e Gilson de Souza, principalmente por conta do sucesso de “Retalhos de Cetim” (“mas chegou o carnaval e ela não desfilou…”, como canta seu clássico refrão), lançada em 1973, embora o próprio Benito negue ser sambista, preferindo se referir como um compositor sem um gênero musical definido.

“Se você prestar atenção, ‘Meu Amigo Charlie Brown’ é um cha-cha-cha”, cantarola o outro sucesso, misturando-a com “Besame Mucho”.

Assista cantando o clássico ‘Retalhos de Cetim:

Com informações do CNN Brasil

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