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Bolsonaro virou “super-herói populista” na pandemia, diz pesquisa

Na opinião de Aline Burni, Bolsonaro não chegou a amplificar a crise sanitária na pandemia, mas enfatizou o estrago econômico causado pela doença.

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem procurado firmar-se como uma espécie de “super-herói” populista durante a pandemia de coronavírus, afirma estudo feito por dois pesquisadores da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

O trabalho foi apresentado no início deste mês na conferência Associação Mundial de Pesquisa em Opinião Pública (Wapor), realizada por videoconferência na Espanha. Foram analisados 12 discursos do presidente entre março e agosto.

Os pesquisadores Aline Burni e Eduardo Tamaki desenvolveram uma metodologia para avaliar como políticos populistas atuaram durante a crise sanitária internacional causada pela covid-19. Dois desses critérios são a “criação de inimigos” e a “ampliação da crise”.

Na opinião de Aline Burni, Bolsonaro não chegou a amplificar a crise sanitária na pandemia, mas enfatizou o estrago econômico causado pela doença.

“É como se as estratégias de confinamento e de precaução, tomadas pelos governadores e prefeitos, tivessem criado outro problema. E esse problema foi enfatizado pelo Bolsonaro como sendo o desemprego”, disse a pesquisadora, doutora em ciência política. Aline integra a rede de pesquisa de líderes políticos da UFMG (Pex Network) e atua no Instituto Alemão de Desenvolvimento (GDI), em Bonn, na Alemanha.

Segundo Aline, a “ideia de super-herói tem dois elementos”. De um lado, Bolsonaro se apresenta como alguém com “qualidades excepcionais” e como “o melhor líder para a população”, inclusive lembrando o episódio da facada que sofreu e uma suposta “missão de salvar as pessoas”. Por outro lado, esse “super-herói” se importa e compreende as pessoas comuns do povo.

Aline diz que o presidente “se coloca ao lado do homem comum, como se fosse o único que entendesse a população comum, diferente das elites políticas tradicionais”.

Para Eduardo Tamaki, o auxílio-emergencial, que aumentou a popularidade Bolsonaro, ajudou o presidente a enfrentar a crise política que se esperava. “Funcionou como uma das medidas que o governo tomou para salvar as pessoas”, disse o pesquisador. Ele atua no Centro de Comportamento Político (Cecomp) da UFMG, onde integra a equipe do Team Populism, que reúne acadêmicos de todo o mundo.

Durante a pandemia, Bolsonaro começou a enfatizar essa imagem de pertencer ao povo. Dizia que sabia que a economia ia ficar mal, que tentou fazer algo, mas que os governadores iam contra. Ele pintou o quadro de que só ele entende o povo”

O auxílio-emergencial de R$ 600 foi definido pelo Congresso, pois o governo defendia R$ 200 —mas o presidente foi quem se beneficiou politicamente dos efeitos da medida.

Demissão de Mandetta engrossa discursos mais populistas

Os 12 discursos de Bolsonaro analisados pelos pesquisadores foram feitos entre março e agosto, tanto os transmitidos em rede nacional de rádio e TV como aqueles das lives das quintas-feiras nas redes sociais.

Foram atribuídas notas em uma escala de zero a dois, considerando-se populista a nota acima de 0,5. A nota média de Bolsonaro foi de 1,0. O presidente alcançou o sua maior taxa de populismo, com 1,5 ponto, em três ocasiões durante a pandemia:

  • Em 24 de março, o quando disse que o povo deveria “voltar à normalidade”, chamou a doença de “gripezinha” e criticou o fechamento de escolas;
  • Em 26 de março, quando afirmou que os laboratórios do Exército iriam aumentar a produção de cloroquina, remédio sem eficácia comprovada contra a covid-19, e quando o Ministério da Economia anunciou o auxílio emergencial;
  • Em 16 de abril, quando anunciou a troca do então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, por Nelson Teich. Na ocasião, também criticou governadores e atacou o isolamento social.

O que significa ser populista

Além de alvo da análise feita por Tamaki e Aline especificamente para o período de pandemia, Bolsonaro é uma das dezenas de líderes mundiais que têm seus discursos avaliados sistematicamente por outro grupo de mais de 80 pesquisadores, o Team Populism. Nela, mantém uma média de 0,5, ou seja, já atingindo o nível de líder populista.

Segundo os pesquisadores, ser populista não significa, necessariamente, um líder carismático ou popular. E não está relacionado se a pessoa é de esquerda, centro ou de direita.

Para um político ou um discurso ser considerado populista, é preciso valorizar o contato direto com povo acima das instituições. O populista também enfatiza uma disputa entre “nós” e “eles” e costuma fazer uma crítica às “elites”. Os pesquisadores do Team Populism consideram o populismo um risco para as democracias no mundo.

Com informações da UOL.

Foto: Divulgação

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