sexta-feira,

26 abril 2024

Pesquisar
Close this search box.
[views count="1" print="0"]

,

Carga viral pode ser dez vezes maior em adultos infectados com variante do AM, diz estudo

Estudo preliminar da Fiocruz Amazônia ainda não foi revisado por pares, avaliou 250 amostras genômicas do coronavírus colhidas entre março de 2020 e janeiro deste ano
Especial Publicitário
Testes para detecção do Covid-19

Cientistas brasileiros podem ter encontrado mais uma resposta para o comportamento mais infeccioso da variante do novo coronavírus surgida no Amazonas, a P1, que já foi identificada em diversos estados e é apontada como um possível agente causador da alta de internações em todo o país e a ameaça de colapso do sistema. Pesquisadores da Fiocruz Amazônia publicaram um estudo preliminar na última quinta-feira no repositório Reasearch Gate indicando que a carga viral da nova cepa em adultos é dez vezes maior do que em outras variantes do Sars-CoV-2.

O trabalho, que ainda não foi revisado por pares, avaliou 250 amostras genômicas do coronavírus colhidas entre março de 2020 e janeiro deste ano, período que contempla as duas ondas da doença na capital, Manaus.

Os pesquisadores também concluíram que a rápida disseminação da P1 ocorreu através da combinação da flexibilização do distanciamento social no estado com a dinâmica de mutação do vírus, que acabaram por “selecionar” a versão mais infecciosa e torná-la prevalente. As alterações na chamada proteínas S do patógeno, utilizada para infectar células humanas, já eram apontadas como um fator que contribui para um papel mais infeccioso da cepa amazonense.

O aumento da carga viral, ou seja, a quantidade de vírus alojados nas vias aéreas, foi observado em adultos de 18 a 59 anos. O fenômeno, no entanto, não foi observado em homens acima dessa faixa etária. Pelo Twitter, um dos autores do estudo, Tiago Gräf, afirmou que o número de indivíduos com mais de 59 anos no estudo foi limitado, o que poderia ser uma das explicações para a diferença. Outra explicação plausível é o papel reduzido da imuinidade em homens mais velhos, como já estudado anteriormente no âmbito da Covid-19.

Com uma vigilância genômica deficitária, o Brasil não monitora o avanço das linhagens do novo coronavírus na velocidade necessária. Cientistas não descartam, no entanto, que a P1 já tenha se espalhado pelo território brasilerio. Nesta semana, o país registrou o pior número de mortes pela doença em 24 horas: 1.582 vítimas fatais foram notificadas pelas secretarias na última quinta-feira. Diversos estados anunciaram medidas restritivas em resposta à crescente alta da taxa de ocupação de UTIs e de novos casos e óbitos.

Efeito do distanciamento social

O trabalho, liderado pelo virologista Felipe Naveca, aponta que as festas de fim de ano ajudaram na disseminação da variante amazonense pelo Brasil. Se por um lado o vírus e suas mutações atingiram mesmo regiões remotas do Amazonas, o fenômeno teria sido represado, na avaliação dos pesquisadores, pela própria particularidade geográfica do estado e pelo isolamento social na primeira fase da pandemia, no ano passado.

“Não encontramos evidências de disseminação das linhagens amazonenses do Sars-CoV-2 fora do estado nos primeiros surtos, o que indica que o Amazonas não teve um papel importante na disseminação viral no Brasil em 2020. A falta de acessos terrestres na maior parte das cidades do estado a partir de outros estados, combinado à redução das atividades de turismo e do tráfego aéreo no ano passado, pode ter reduzido de forma significativa a exportação das variantes amazonenses do Sars-CoV-2 para outras regiões brasileiras”, escreveram os cientistas. “No entanto, as celebrações de Natal e do ano novo, combinadas ao surgimento da variante potencialmente mais transmissível P1, pode ter mudado esse cenário”.

Embora mutações sejam absolutamente comuns em vírus de RNA, como é o caso do Sars-CoV-2, uma das principais dúvidas de cientistas quanto as variantes surgiram como preocupação a partir da linhagem do Reino Unido era se havia tempo suficiente para o coronavírus selecionar uma mutação específica o suficiente para se tornar mais infeccioso. Uma outra consequência seria o escape vacinal, quando os anticorpos produzidos por uma vacina perdem a especificidade graças a uma mudança genética.

Uma das razões apontadas para a emergência precoce de uma variante com potencial danoso para a curva epidemiológica foi o enfraquecimento das medidas de distanciamento social e o uso de equipamentos de proteção individual, as chamadas intervenções não farmacológicas. Os mesmos recursos teriam freado a disseminação da Covid-19 no Amazonas em meados de 2020, embora nunca em um patamar seguro, pontua a pesquisa.

“A falta de isolamento social eficaz e outras medidas mitigantes provavelmente aceleraram a transmissão precoce da variante P1, enquanto sua alta transmissibilidade deu combustível para a rápida insurgência de casos de Sars-CoV-2 e hospitalizações observadas em Manaus após seu surgimento”, afirmam os cientistas no estudo. “A adoção fraca de intervenções não farmacológicas como ocorreu no Amazonas e em outros estados brasileiros representam um risco significativo do surgimento e disseminação de novas variantes. Implementar medidas eficientes de mitigação combinadas a uma vacinação em massa é essencial para controlar a disseminação das linhagens do novo coronavírus no Brasil”. 

*Fonte: O Globo

LEIA TAMBÉM

Tags:
Compartilhar Post:
Especial Publicitário
Banner TCE
Manaus é Chibata