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“Caso Delmo” completa 70 anos e lembra época em que violência não era comum em Manaus

Execução brutal de jovem, acusado de matar taxista, chocou a população da época. Conheça os detalhes do "Caso Delmo"
Crime virou manchete dos jornais da época. Foto: Divulgação.

Manaus | Era madrugada do dia 31 de janeiro de 1952, quando tinha início um dos episódios mais chocantes da história do Amazonas: o “Caso Delmo”. Diferentemente do cenário atual, no qual Manaus se vê submersa em um quadro de violência permanente, a sociedade da época se chocou com a brutalidade que permeou o assassinato de um jovem.

Filho do proprietário da Serraria Pereirai, Delmo Campelo Pereira era ainda era estudante, quando decidiu assaltar o estabelecimento do próprio pai.

O dinheiro seria para gastar em um clube da cidade, onde costumava passar madrugadas adentro. O plano criminoso, no entanto, não saiu como o jovem planejava.

Delmo chegou local do crime acompanhado de um taxista, mas não conseguiu sequer despistar o segurança da serraria. O jovem tentou tirá-lo do local, alertando sobre um suposto incêndio, mas não convenceu o vigilante.

Com isso, Delmo resolveu partir para a brutalidade, e feriu o segurança com uma chave de fenda, pelas costas. Por conta disso, Antônio perdeu os movimentos da parte esquerda do corpo.

Mesmo após ter ferido o segurança, o jovem não conseguiu encontrar dinheiro no caixa da serraria, e fugiu do local apenas levando uma arma de fogo.

Quando entrou novamente no carro, Delmo percebeu que o taxista testemunhado todo o crime. Por conta disso, o jovem cometeu outro crime.

Desta vez, para se livrar de uma testemunha ocular do caso, ele assassinou o motorista a tiros. A brutalidade do caso ganhou repercussão rapidamente na cidade, que abrigava pouco mais de 120 mil pessoas. A classe dos taxistas foi a que mais se revoltou com o episódio.

Questionado pelas autoridades, Delmo chegou a confessar o crime, mas a sua instabilidade e incoerência diante das perguntas feitas pelos policiais ainda é um mistério até hoje.

As versão ditas pelos jovens mudavam a todo instante. Em um momento, afirmava que havia agido sozinho, em outro, relatava que tinha comparsa, sem revelar a identidades do suposto cúmplice.

No dia 5 de fevereiro, a ira dos taxistas alcançou proporções incontroláveis. Após tomar o “soro da verdade” e se confessar com um padre, Delmo foi sequestrado pelos taxistas quando era transferido novamente à delegacia.

Dezenas de choferes presos pelo crime – Foto: Divulgação.

Mais de 50 homens ajudaram no “rapto” do jovem, e o levaram a estrada velha do São Raimundo. No local, cerca de 27 pessoas participaram da execução de Delmo.

A partir daquele momento, houve uma radical mudança no posicionamento da opinião pública em torno do caso. Isso porque a morte brutal de Delmo causou grande comoção e o transformou em mártir.

O “Caso Delmo” levou mais de 28 pessoas ao julgamento, com prisões de dezenas de motoristas, em um processo digno de um longa cinematográfico.

Banalização da violência

Se o caso chocou a sociedade da época, marcando a história do Amazonas, os casos que envolvem requintes de crueldade parecem ter se tornado trivial em Manaus.

Diferente da pacata cidade dos anos 50, a capital amazonense se tornou um dos lugares mais violentos do planeta, especialmente após os cobiçosos olhos de traficantes de drogas enxergarem o potencial de Manaus para o escoamento das drogas produzidas no Andes.

A disputa pelo controle dos bairros da capital passaram a ser moldada a sangue. Neste segunda-feira (31), por exemplo, membros de um corpo humano foram encontrados sem sacolas de lixo, na Zona Sul de Manaus, que chegam a fazer parecer o “Caso Delmo” menos cruel.

Corpo foi achado em sacola. Foto: Érika Almeida.

Segundo o sociólogo Israel Conte, a violência permanente enfrentada por Manaus nos últimos anos é sem paralelos com qualquer outro caso de violência urbana do Amazonas.

“Por que o ‘Caso Delmo’ foi tão marcante? Porque aquele nível de violência não pertencia à época, hoje, infelizmente, não vivemos em um contexto tão absurdo, que as pessoas passaram a não se importar mais com esses casos brutais. Existe até quem faça piada, inclusive”, explicou.

Israel afirma, também, que é necessário mudar, não só em Manaus, mas em todo o país, a mentalidade como as autoridades enfrentam os crimes contra a vida.

“Esses assassinatos perversos ocorrem porque se tornou uma força de demonstração de força do poder paralelo para os seus respectivos rivais. Enquanto não traçarmos novas estratégias no Brasil, especialmente no combate à crimes contra a vida, a situação só tende a piorar”, concluiu.

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