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26 abril 2024

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‘Eu tive várias mães, uma para cada momento’, diz amazonense ao relembrar perda da mãe biológica aos 12 anos

“Leoa e severa”. As duas palavras definem dona Marlene, mãe de Conci
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Conci e suas filhas Natasha, Lindsay e Nathalie Fotos: Acervo de Família

“Eu lembro dos momentos em casa, da hora do almoço, que sempre reuníamos todo mundo. Minha mãe nunca aceitou que faltasse um. O Natal e o Ano-Novo, por exemplo, mesmo que simples, ela arrumava direitinho a mesa”, a fala é da jornalista amazonense Conceição Melquíades, de 47 anos, in memoriam a mãe biológica Marlene Ferreira Melquíades.

Conci, como prefere ser chamada pelos colegas de profissão, amigos e familiares, conta que a mãe faleceu quando ela tinha 12 anos. Dona Marlene morreu com 40 anos de uma parada cardíaca fruto de fortes dores de cabeça (enxaqueca), acredita a filha. Na época, a jornalista conta que foi o único diagnóstico que ficou sabendo, até porque não havia estrutura avançada de medicina na época.

Ensinamentos

“Leoa e severa”. As duas palavras definem dona Marlene, de acordo com Conci. “Ela era bem severa, mas era bem leoa para defender seus filhos. Ela sempre valorizou os filhos e ensinou todos a respeitar os mais velhos, ter bons modos, respeitar as coisas dos outros. Sou a mais velha e três irmãos e temos esse respeito aos mais velhos”, enfatiza a jornalista.

Cedo me tornei mãe dos meus irmãos, mesmo antes da partida dela. “Eu já era mãe dos meus irmãos ainda com a minha mãe viva, porque ela sempre colocou essas responsabilidades por eles serem mais novos. Depois que ela morreu, eles ficaram morando na casa da minha vó e de uma tia minha”, conta Melquíades.

De mãe para filha

Além da profissão de jornalista, Conceição também é mãe e dona de casa. Criou as três filhas frutos de um único casamento: Natasha, 28 anos; Lindsay, 27; e Nathalie, 24 anos.

A vida toda, Conci diz que sempre foi muito de conversar. “Sempre contei a elas que vivi na casa dos outros e que elas tinham que ser independentes porque uma hora a mãe vai partir. Fazer a comida delas, cuidar do espaço delas e ter responsabilidade. Eu não tive um quarto, uma cama, então vocês têm – e precisam ser gratas a isso”, destaca.

Lembranças

Apesar de ter convivido com a mãe até os 12 anos, a figura materna ainda é muito viva em Conci. “Eu lembro dela porque para todo lugar ela me levava. Só era eu de menina, então ela me levava o tempo todo, seja para feira, supermercado ou médico, eu sempre estava ali com ela”, recorda.

Conceição revela que, na verdade, se chama Maria da Conceição e quando criança tinha que se consagrar. “Minha mãe se descrevia como ‘católica, apostólica, romana’. Até quarta-feira, a gente tinha que arrumar tudo em casa, para quinta em diante não precisar varrer, lavar roupas ou fazer outros serviços. Principalmente na sexta, que, para ela, era um dia de reflexão”, explica Conci.

Aos risos, ela lembra das vezes em que viveu “Sábado de Aleluia” com a mãe e os irmãos. A semana era santa até sexta-feira. Se aprontasse no sábado, a gente apanhava. A minha mãe não tinha muita dó. Ela tinha um galho de goiabeira, palmatória, cinto. Ela só não batia de chinelo porque, segundo ela, estava nos pés e era como se tivesse amaldiçoando os filhos”, conta aos risos.

Segredo

Conceição diz que por um bom tempo alimentou um sentimento de mágoa em relação à figura paterna. Com lágrimas nos olhos, ela desabafa sobre o maior segredo que a mãe guardou e levou para o túmulo.

“Não tenho nenhuma revolta referente às disciplinas. A revolta que eu tive é que ela não me apresentou meu pai. Ela disse que faria isso quando eu tivesse 15 anos, mas acabou morrendo antes. Sempre tive muita carência de pai, e por conta dessa carência em fiquei com mágoa por bastante tempo. Meu pai era vivo, tinha como me sustentar, me ajudar, auxiliar, era uma obrigação dele, mas minha mãe era orgulhosa demais e preferia passar as necessidades em casa do que buscar ajuda”, detalha Conci ao mesmo tempo em que enxugava os olhos cheios d’água. “Eu já quis muito encontrar meu pai, hoje não. Acho que ele já está morto”, confessa a jornalista.

Amor de mãe

A amazonense conta que não planejou ser mãe, mas a primeira gravidez não veio por acidente. “Eu esperava depois dos 30, mas foi antes dos 20. Mas quando a barriga cresceu, eu senti o peso da responsabilidade. Filho não pede para nascer, mas se você procura então a responsabilidade é sua. Eu abracei esse fato de ser mãe, e por elas eu amadureci. Eu suspendi meus estudos, mas desde os 12 anos eu já sabia que queria ser jornalista, mas eu parei os estudos e sempre trabalhei. Filho não impede de nada, é você que coloca a dificuldade. Eu sempre procurei preencher o dia delas, para que eu pudesse fazer as minhas coisas”, explica a jornalista Conceição Melquíades.

‘As mães’

Até os 12 anos, Conceição conviveu com a mãe biológica. Após a morte da mãe, ela morou até os 15 anos com uma tia-avó, como ela carinhosamente chama de “tia Adalgisa”, falecida na década de 90. “Ela que me instruiu na minha adolescência e me ensinou a ser o que é ser uma moça. Após isso, fui morar com a Idalba. Naquela época, ela precisava de uma babá para auxiliar na criação do filho adotivo dela, uma criança de cinco anos. Eu saí da casa dela para casar [risos], mas não deu certo”, conta Conceição aos risos.

“A Idalba se tornou uma mãe para mim, porque foi para ela que eu apresentei meu primeiro namorado, e ela deixava ele frequentar a casa dela, onde eu morava e cuidada do filho dela. Depois disso, eu conheci o pai das minhas filhas, com quem vivi por cinco anos. Da gestação até o nascimento delas eu conheci a América, que havia trabalhado na escola quando eu estudei. Ela exerceu o papel de avó para as minhas filhas e se tornou também uma mãe para mim, por me passar os ensinamentos de casa”, destaca Conci.

A amazonense conta que América se mudou e hoje mora em Fortaleza, no Ceará (CE). Mas com a partida da mãe, que se tornou avó das filhas, apareceu outra figura materna em sua vida. “Na igreja, pois sou evangélica, conheci a “tia Rosa”, que é minha conselheira até hoje. Eu a considero uma mãe de fé”, explica a jornalista.

Por fim, Conceição agradece às mães que fazem parte da sua vida.

“À mãe Marlene, agradeço pelos ensinamentos porque ela foi enfática no que me ensinou. Eu fiquei menina quando ela morreu, tinha tudo para desviar meus caminhos, mas não fiz. Eu fui firme. Minha mãe dizia assim: se tu pega um palito de fósforo, mesmo que esteja queimado, tu vai pegar outra coisa”.

“À mãe Adalgiza, me ensinou a não desviar na adolescência, no período da minha juventude, da trilha que já estava destinada da minha mãe. Ela me deu colo, agradeço por isso”.

“À mãe Idalba, que me ensinou a ser a mulher que sou hoje. Ela também era uma mãezona, principalmente para o filho dela adotivo, que ela fazia questão de dizer que ele não era da barriga dela, mas era do coração. O filho dela era da empregada doméstica, que quis afogá-lo no vaso sanitário logo quando nasceu, por esse motivo ela o registrou como “Moisés”, resgatado das águas”.

“À mãe América, agradeço por ela ter sido uma parceira, na época em que eu me tornei mãe e eu tinha minhas dúvidas”.

“À tia Rosa, mãe de fé: uma amiga”.

Leia também: Dia das Mães: isolamento social mudou as relações entre mães e filhos

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