Pesquisar
Close this search box.
[views count="1" print="0"]

Janeiro Sangrento: 6 mulheres são mortas em menos de um mês no AM

As seis mortes de mulheres no Amazonas só nos primeiros 25 dias de janeiro de 2022 preocupam as autoridades
Especial Publicitário
mulheres mortas amazonas

Manaus (AM) – As mortes de mulheres no Amazonas em janeiro de 2022 acende um alerta sobre a violência e criminalidade. Nos primeiros 25 dias do ano, ao menos, seis mulheres foram assassinadas no Amazonas, seja devido ao envolvimento com o tráfico de drogas ou por feminicídio, quando o homicídio é praticado pelo fato da vítima ser mulher.

Os números são preocupantes para as autoridades, dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP-AM) mostram que não ocorreram nenhum caso de feminicídio em janeiro de 2021, e no mesmo período deste ano já são, pelo menos, dois casos que se enquadram na configuração desse tipo de crime.

Mulher morta na Compensa – Reprodução

O caso mais recente, entre as mortes de mulheres no Amazonas, aconteceu na noite da última segunda-feira (24), a jovem Rebeca Gonçalves Pedrosa, de 21 anos, foi morta a tiros no momento em que ela jantava com um homem, na Rua do Areal, bairro Compensa, Zona Oeste de Manaus. Conforme testemunhas, criminosos chegaram em um carro e surpreenderam a vítima, que morreu na hora. O homem que estava com ela também foi atingido, mas foi encaminhado para o pronto socorro.

Ângela assassinada na Compensa – Divulgação

Um outro crime parecido aconteceu no dia 6 de janeiro, quando Ângela Araújo da Silva, de 43 anos, foi executada a tiros em um bar na rua Santa Rita, também no bairro Compensa. De acordo com testemunhas, a vítima foi surpreendida por um criminoso que chegou em um veículo não identificado e efetuou vários disparos contra ela. A mulher ainda foi socorrida, mas não resistiu.

O terceiro caso ocorrido na capital, foi a morte de Alice Bastos, de 20 anos, atacada com um tiro na cabeça, na tarde do dia 20, na rua São Pedro, da comunidade Parque São Pedro (antiga Carbrás), no bairro Tarumã, Zona Oeste. A suspeita é de que o próprio companheiro da vítima tenha estourado a cabeça da jovem a tiros. O homem não foi encontrado na quitinete. Mas, há também suspeita que a vítima tinha ligação com facção criminosa.

A dona da quitinete teria alugado o lugar a uma pessoa e esta repassou a terceiros. A proprietária do imóvel alega, ainda, não conhecer Alice. 

Remoção do corpo de Alice no Tarumã – Foto: Erika Almeida

 Envolvimento com o tráfico

Segundo Débora Mafra, titular da Delegacia Especializada em Crimes Contra a Mulher (DECCM), mortes de mulheres no Amazonas, podem ter relação com o envolvimento das vítimas com o tráfico de drogas, principalmente as que ocorreram em Manaus. A autoridade policial explicou que a mulher conquistou todo tipo de segmento na sociedade, incluindo a criminalidade. “Ela foi dirigir caminhão, ser piloto de avião e escolheu migrar para o tráfico de drogas”, disse Mafra.

Conforme a delegada, o avanço da participação feminina no crime ultrapassa a teoria de que as mulheres que vão presas somente por envolvimento amoroso com traficantes. “Elas decidiram tomar o tráfico como profissão”, disse a delegada. O aumento desse envolvimento feminino tem atraído mulheres de todas as idades. Daí a morte de mulheres mais jovens.

Delegada Débora Mafra – Reprodução

As vítimas são de idades variadas e a forma como elas são mortas demonstram a semelhança da frieza e barbaridade de um companheiro que mata a mulher com um traficante com suas vítimas.

“Sempre teve mulher no tráfico, e por amor, ela acabava como mulas, mas hoje, elas tomam conta do tráfico e geralmente ela vai acabar na cadeia, ou infelizmente, morta”, disse.

A delegada explica que a ostentação de criminosos leva meninas ao fascínio enganoso e acabam até perdendo a vida. “Nas nas escolas deve haver uma orientação para evitar a entrada no tráfico e sempre falar que se envolver com o tráfico não é bom”, disse.

Os crimes contra mulheres também têm crescido no interior do estado

Somente no início deste ano, ao menos dois feminicídios e uma tentativa de feminicídio foram registrados em três município diferentes do Amazonas.

Em Tabatinga, a 1.108 quilômetros da capital, a jovem Sherry Mylena Nunes Pereira Pinto, de apenas 18 anos, foi barbaramente morta a facadas pelo ex-marido no dia 14 de janeiro. De acordo com os policiais, o homem invadiu a embarcação onde a jovem estava e desferiu várias facadas na vítima. 

Jovem foi morta na frente do filho em uma embarcação – Divulgação

Sherry foi assassinada na frente do filho do casal. O homem foi preso em flagrante e encaminhado a delegacia do município.

Outro crime bárbaro aconteceu em Autazes, a 113 quilômetros de Manaus. O corpo de uma jovem identificada como Nazaré Dias Lima, de 19 anos, foi encontrado em avançado estado de decomposição, dentro de uma geladeira, na quarta-feira (19), na estrada do Parque do Festival do Leite, nas proximidades do aeroporto do município. 

A jovem estava desaparecida há quatro meses e teve o corpo reconhecido por familiares.

A PC informou que um inquérito foi instaurado para apurar a morte e que mais informações não podem ser repassadas.

Nazaré achada morta em uma geladeira – Divulgação

No município de Urucurituba (distante 273 quilômetros de Manaus), Kátia Omar Rodrigues Envira, que tinha 41 anos, foi morta a pauladas e o corpo dela encontrado boiando em um igarapé. O suspeito identificado como Ewerton de Oliveira Simões, de 23 anos, conhecido como “Marreco”, foi preso em flagrante.

Em alguns casos, as vítimas conseguem sobreviver aos ataques criminosos, é o caso da mãe e da filha, que foram esfaqueadas dentro de casa na terça-feira (18), no bairro Javiera, em Parintins, a 369 quilômetros de Manaus. 

Identificadas como Alcilene Sarraf, de 58 anos, e Leiliane Sarraf, de 38, as duas foram atacadas por dois homens que invadiram a casa para realizar um suposto assalto. 

Kátia morta a pauladas e teve o corpo jogado em um igarapé – Divulgação

Alcilene foi atacada com golpes de faca no peito e no abdômen. Ela precisou passar por cirurgia devido a gravidade dos ferimentos. O atual estado de saúde dela é considerado delicado. 

Para combater os crimes contra a mulher e as mortes de mulheres no Amazonas são necessárias leis mais severas, segundo Mafra. “Essas mortes horrorosas são homicídio qualificado e é preciso estrutura para coibir. Também falta internalizar a vontade de denunciar, pois a maioria das vítimas nunca denunciaram os companheiros. Se denunciar, a gente sabe que as mortes vão diminuir”, afirmou Mafra.

A delegada disse que ao denunciar a violência, a vítima recebe apoio psicológico, em alguns casos ela pode ficar em um abrigo, participa de curso de profissionalização e em alguns casos, o marido é retirado da casa e recebe medida protetiva.

“O fator emocional conta muito. Ela perdoa aquele que pede perdão mil vezes, ela apanha e acredita que foi ela quem errou, às vezes, ela depende financeiramente e pensa que se separar é pior, ela está com a autoestima no chão e têm os filhos”, explica a delegada.

Debora Mafra afirma que mesmo com todas essas questões, as mulheres precisam denunciar os agressores porque em muitos casos, quando elas não denunciam, acabam morrendo de forma trágica.

“Os crimes são bárbaros. Eles matam elas com o que tem em casa, com tesoura, faca,  demonstrando o ódio, às vezes matam com até 30 facadas. Para não chegar a isso, é preciso denunciar.

No site da Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc) tem a Rede de Atendimento à Mulher em situação de Violência, com os contatos para denúncias de violência, que também podem ser feitas pelo 181.

Tags:
Compartilhar Post:
Especial Publicitário