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Microempreendedores amazonenses revelam ‘estratégia de sobrevivência’ aos negócios durante a pandemia

O Portal Tucumã entrevistou os microempreededores Ruan Giovanni (Looklens), Beatriz Araújo (Doces da Bia), Thaynah Ale e Paulo Nery (Mister Brownie). Confira mais detalhes
Microempreendores

Manaus – Donos de três microempreendimentos revelam que estratégia de sobrevivência nos negócios reside na informalidade. Este é o traço marcante na economia do Estado do Amazonas antes mesmo da pandemia, chegando em 71,7%, o maior do Brasil em 2019, aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O índice de informalidade, segundo analistas do IBGE, tende a crescer com a vinda de mais pessoas a adotarem modelos informais de negócio, afim de evitarem tributações e penalidades decorrentes do não cumprimento das medidas restritivas.

O Ruan Giovanni Siqueira Pereira, de 20 anos, conta como a pandemia o surpreendeu negativamente. Ele traz uma história muito parecia com a de diversos informais: abriu um negócio que coincidiu bem no momento à tentativa de implantação do lockdown do Estado do Amazonas, e na capital Manaus. Quando ele havia começado com a ideia da Looklens, loja de roupas variadas, temeu acabar ficando no prejuízo.

“Quando a pandemia começou, fiquei preocupado porque eu já havia feito a compra dos materiais. Na época, iniciei com camisetas cristãs e peças íntimas (cuecas, lingeries). Eu imaginava a redução do comércio, até porque o foco dos clientes passaria a estar voltado à compra de alimentos e pagamento das dívidas. Eu realmente achei que não iria conseguir vender”, admitiu.

Beatriz Araújo, de 20 anos, dona da Doceria da Bia, que é famosa pela diversidade de seus doces como bolos, brownies, sobremesas e brigadeiros, também tinha acabado de voltar com o negócio da família.

“No início da pandemia nós ficamos muito apreensivos. Nós havíamos acabado de reativar. Então, a gente ficou com medo de não ter um retorno”, lembrou.

A situação mais dramática aconteceu com Thaynah Ale, de 27 anos, e seu companheiro Paulo Nery, de 30 anos. Juntos, eles administram um microempreendimento, que, até antes da pandemia, era visto por clientes como promissor, especializado exclusivamente na fabricação de brownies, o “Mister Brownie”.

“Infelizmente nosso processo de vendas foi bastante afetado pela pandemia devido ao fechamento dos negócios de nossos principais clientes, os estabelecimentos comerciais, restaurantes e afins. Quando eles fecharam, consequentemente nossas vendas caíram. Na verdade, elas praticamente pararam”, afirmaram.

O planejamento e a reestruturação

Ruan Giovanni acabou tendo que sair da zona de conforto e aprender a lidar com ferramentas virtuais e mídias sociais, algo já cada vez mais requisitado pelo mercado de trabalho.

“O que eu fiz não é uma coisa nova, mas eu nunca havia utilizado de forma profissional. Eu comecei a usar as mídias sociais, inclusive o Instagram, que é uma ótima ferramenta para vender um produto. Antes disso tudo, eu nunca tinha mexido – Na verdade, eu até tinha um perfil pessoal – mas dificilmente entrava. Então comecei a estudar como conseguir seguidores, a como vender através dessa rede social e aos poucos eu fui pegando a prática de divulgar sem precisar gastar com divulgação”, declara.

O empreendedor conta que somente as redes sociais não foram o suficiente para conseguir conquistar os clientes.

Ruan fala como os círculos sociais e esquema de indicações, aliado ao atendimento e pagamento personalizado, formaram a estratégia de sobrevivência que fez seu negócio andar .

“Eu comecei a vender para pessoas dos meus círculos de amizades, como familiares. Adotei a estratégia de atendimentos marcados em horários específicos para apresentar os produtos, sempre usando as mídias sociais da Looklens no Instagram, Facebook e Whatsapp. Outra forma que usei para conseguir efetivar as vendas foi adotar os pagamentos a prazo, o que foi uma verdadeira estratégia de sobrevivência pra mim. Por exemplo, quando a pessoa ia comprar comigo, eu a deixava usufruir do produto e pagar no outro mês, às vezes, em até duas parcelas. Outras pessoas, eu ia parcelando até cinco vezes valores pequenos, de R$ 50, tudo isso para facilitar a vida dos clientes’’, admite.

Na “Doceria da Bia”, Beatriz Araújo conta que um grande recurso utilizado no processo de recuperação das vendas foram os novos aplicativos de delivery.

“A nossa estratégia de sobrevivência para continuar vendendo foi o uso de aplicativos para delivery. As pessoas que nos descobriram no Instagram, começaram a pedir. E aí a gente começou vender o mesmo que fazia antes, e logo depois até mais do que vendíamos quando estávamos com a banquinha aberta”, declarou animada.

Assim que o comércio voltou a reabrir no final de junho, Thaynah e Paulo não esqueceram do atrativo que é a transparência aos clientes nas medidas de higiene adotadas tanto na produção dos Brownies, quanto na sua entrega.

“Nós do Mister Brownie, usamos como estratégia de sobrevivência do nosso negócio, o redobramento de todas as medidas de higiene na produção dos Brownies. E nas entregas, adicionamos um novo componente que é o álcool em Gel. Mas antes mesmo da pandemia, nós já usávamos máscaras, lavávamos as mãos constantemente e usávamos toucas para produzir os Brownies. Quanto a estes procedimentos, nós divulgamos aos nossos clientes o processo preparativo através dos stories da empresa.’’, afirmaram.

Os frutos do esforço

Estar atendo ao gosto dos clientes, aproveitar o tempo da melhor forma e levar diretamente o que o cliente quer garantiram a clientela física.

“Busquei inovar e trazer alta qualidade no material dos produtos e pegar a sugestão de clientes, do que eles gostariam de comprar (…) Apesar das minhas redes sociais, a minha maior clientela ainda é física. E grande parte das minhas vendas ainda é feita porta a aporta. Sabe, a internet é boa para vender, mas ainda assim as pessoas querem ver o produto’, explica.

O incentivo dos familiares e a união também foram fundamentais para Ruan manter o foco e não desistir.

“Minha companheira, a Gilmara, também foi uma das pessoas que mais me incentivou a trilhar esse negócio – inclusive no processo de personalização de vendas. E grande parte do meu êxito se deve ao esforço dela apresentando os produtos ao círculo de amizades interno e ao incentivo constante nas vendas’’, declarou.

No “Doces da Bia”, a empreendedora afirma que acabou vencendo os desafios da pandemia e as dificuldades impostas pelas medidas restritivas também devido à dedicação familiar.

“Graças a Deus nós não sofremos um grande impacto financeiro. Se não seria praticamente uma falência antes de começar, mas felizmente não ocorreu. A gente produziu bastante, as encomendas aumentaram, inclusive por conta das festas familiares que as pessoas estavam fazendo em suas casas. Nosso negócio acabou se tornando mais conhecido entre as famílias. Entre as pessoas que divulgavam nosso trabalho através das redes sociais e também pelo delivery’’, revela.

O receio

Apesar de conseguirem ter se mantido após a crise econômica, o casal dono da Mister Brownie ainda sente receio de que uma segunda onda e novas medias restritivas possam vir abalar o negócio.

“Quando os estabelecimentos voltaram a funcionar, nós voltamos com as nossas demandas de brownies e com a nossas encomendas. Porém, uma possível segunda onda nos preocupa muito, porque não saberíamos como manter o negócio”, declaram os sócios.

A Doces da Bia também se pronunciou sobre a suposta segunda onda. “Nós esperamos que os aplicativos de delivery já tenham normalizado. Se não, nós iremos procurar motoqueiros fixos pra atender nossos clientes’’, relembrando a crise do setor de entregadores de aplicativos.

A importância da Informalidade

De julho até outubro deste ano, aproximadamente 681 mil pessoas estavam na informalidade no Estado do Amazonas, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua). Mas por que os amazonenses escolhiam a informalidade mesmo antes do Governo decretar restrições ao comércio?

Segundo Iván Carrino, analista econômico da Fundação Liberdade e Progresso na Argentina, “a informalidade, como estratégia, é o único refúgio de quem quer sobreviver em uma economia asfixiada pelo estado’’.

“Empreendedores operam na informalidade por três motivos fundamentais, e isto não é diferente da estratégia dos amazonenses: Primeiro, que os encargos sociais e trabalhistas não permitem o trabalho formalizado; em segundo, as regulamentações e a burocracia não permitem que um empreendimento seja legalizado; e terceiro, os impostos não permitem que as transações oficiais sejam lucrativas. Ameaças de multas e confiscos não irão aliviar o primeiro e o terceiro fatores. E somente uma redução no emaranhado burocrático de regras e regulamentações irá aliviar o segundo fator”, disse.

A asfixia gerada pelas medidas do governo é exatamente o que se pode observar no Estado do Amazonas com o decreto assinado no dia 24 de setembro de 2020.

O governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), havia decretado a suspensão de balneários, praias de recreação e limitado o horário de funcionamento de restaurantes e bares, prevendo multa diária de até R$ 50 mil, embargo e interdição de estabelecimentos e até a punição civil e criminal, em caso de descumprimento.

A recepção da notícia pela população foi marcada pelo descontentamento de diversos nichos de microempreendedores e informais, empresários e empregados e o nicho de internautas, que satirizaram em memes nas redes sociais.

Por: Henrique De Mesquita
Foto: Divulgação

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