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Sobrevivente da Boate Kiss diz que viveu um ‘filme de terror’

A tragédia, que matou 242 pessoas e deixou 636 feridas, começou no palco, onde se apresentava a Banda Gurizada Fandangueira
Julgamento de acusados no caso da Boate Kiss entra no quarto dia (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)
Julgamento de acusados no caso da Boate Kiss entra no quarto dia (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

A segunda testemunha ouvida neste sábado (4) no julgamento dos envolvidos no incêndio da boate Kiss disse que viveu um filme de terror. Cristiane dos Santos Clavé é uma sobrevivente e foi convocada pela acusação e disse em depoimento que saiu da boate logo após o início do fogo.

Ela disse que avisou o irmão e pediu para que ele fosse buscá-la. “Quando meu irmão chegou eu disse pra ele aquilo era um filme de terror. Meu irmão foi tirar as madeiras que revestiram a parede. Ele veio até a mim dizendo que ia entrar. Eu disse pra ele não entrar”, disse.

A festa era a comemoração do aniversário de uma conhecida, e Cristiane foi à boate a convite de um amigo, Leandro, que faleceu na tragédia. Ela relatou ter perdido outros amigos também.

“Um monte de gente achou que era briga [quando o fogo iniciou]. Mas quando olhei pro palco, um rapaz tava com extintor tentando apagar”, descreveu. “Era como se as chamas tivessem por dentro do teto. Na minha visão, aquilo ia se apagar”, disse.

A sobrevivente relatou ter fechado os olhos e a boca, e tatear a parede, até conseguir sair. Ela confirmou também, ao Ministério Público, que não houve aviso no sistema de som de incêndio e pedido de evacuação. “Muita gente morreu sem saber o que estava acontecendo”, disse.

A tragédia, que matou 242 pessoas e deixou 636 feridas, começou no palco, onde se apresentava a Banda Gurizada Fandangueira.

Depoimentos

Antes de Cristiane, o primeiro a falar foi empresário Alexandre Marques. Ele é organizador de eventos e fazia parte da banda Multiplay. Ele fazia o material gráfico e publicitário de Kiko e também “vendia” bandas para ele.

Alexandre diz que sempre achou o ambiente da Kiss agradável e que lotação máxima de eventos prejudica vendas de bebida.

“Se tu está com a casa muito lotada tu não ganha no bar, porque a pessoa não consegue chegar lá. Se está muito cheia, muito quente, tu não consegue chegar no bar, tu acaba ficando claustrofóbico”.

“Não era de costume informar as casas [sobre o uso de fogos]. Era algo que trazia um glamour pela banda. Sempre que eu chegava em qualquer local de show eu inspecionava o ambiente, o que tinha sobre o palco. Se eu não achava seguro colocar, eu não colocava. Antes da questão do público eu também tinha que pensar na banda, então eu não colocava”, diz.

Alexandre destaca que no dia que a banda dele, a Multiplay, tocaria na Kiss, ele foi ao local instalar um banner e os sputniks, mas que Kiko não autorizou o uso.

“Primeiro de tudo eu estava pedindo pro Sandro, técnico de som, para me ajudar a instalar o banner. Ele me disse que teria que falar com o Kiko para ver se ele deixava. Nisso eu estava colando os sputniks para fazer o primeiro disparo. O Sandro perguntou o que era e disse pra falar com o Kiko. Nisso o Kiko estava saindo da copa e disse que não [desautorizando o uso dos fogos]. Tentei argumentar. Ele disse que tinha cortina: ‘já deixei o palco bonito pra vocês'”, conta.

O segundo a falar foi o sobrevivente Maike Adriel dos Santos. Ele havia ido à festa com um grupo de amigas. Algumas delas faleceram.

“Respirar aquela fumaça, parecia que estava respirando fogo”, disse Maike, que é formado em desenho industrial, ao relatar sobre o dia do incêndio.

Ele conseguiu sair da boate após o início do incêndio. No júri, simulou, a pedido do Ministério Público, como era possível andar no meio da confusão. “Eu tava esmagado entre as pessoas”, descreveu o sobrevivente dando passos devagares.

Ao chegar na rua, Maike foi socorrido por uma amiga que estava no fumódromo. Ele foi levado ao hospital. Ficou quase um mês internado, sendo que uma semana foi em coma.

“Fiquei quase um mês, 24, 25 dias internado. Uma semana em coma. Eu cheguei no hospital, a mãe me disse que induziram o coma pela manhã, pelo meio dia que eu fui piorando e acordei no outro domingo. Chegou um momento que falaram pra minha mãe que não tinha mais o que fazer. [Disseram] se a senhora sabe rezar, comece a rezar”.

Com informações do G1

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