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Viúva de morto por sargento da Marinha diz estar sendo intimidada

Em uma das ameaças foi dito para a viúva e sua filha terem cuidado pois agora estão sozinhas
Fabiana Teófilo, irmã de Durval, e a viúva, Luziane Teófilo — Foto: Raoni Alves/g1 Rio

Dias após o assassinato de Durval Teófilo, morto por um sargento da Marinha em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, a família diz sofrer intimidações em uma tentativa de abafar o caso.

O EXTRA apurou que as ameaças sofridas pela família são “veladas” e teriam partido de vizinhos e conhecidos do autor do crime. Ao menos, dois comentários que colocaram em dúvida a segurança da viúva e sua filha. Em um deles, foi dito para ambas terem cuidado pois agora estão sozinhas. Temendo por sua integridade, a família deixou o condomínio.

A viúva, Luizane Teófilo, explica que o advogado da família, que também é assistente de acusação no caso, acompanha as tentativas de intimidações. Ainda não foi feita uma queixa formal, mas as intimidações teriam como objetivo fazer que a família parasse de comentar o caso na mídia.

A viúva e a filha não estão morando no condomínio em que Durval foi assassinado, mas a família teme por sua segurança.

— Não adianta me coagir, eu não sou amiguinha da família dele nem sei quem são ou quero saber. Não estou aqui por fama ou para ganhar likes. Eu perdi meu melhor amigo — diz Luiziane.

A família participa, nesta segunda-feira, de uma reunião com duas Comissões da Assembleia Legislativa do Rio. Os deputados estaduais Dani Monteiro (PSOL), presidente da Comissão de Direitos Humanos, e Carlos Minc (PSB), presidente da Comissão de Combate ao Racismo, recebem os familiares e seus advogados. Os parlamentares prestam auxílio jurídico e dizem que irão cobrar um posicionamento oficial da Marinha sobre o caso:

— Até o momento, ninguém veio pedir perdão. O que eu mais quero é Justiça, não apenas paras os negros e por Durval, mas também pela minha filha. Todo o tempo ela pergunta se o papai vai voltar — desabafa Luizane, emocionada.

Racismo a caso Moïse

A família credita o crime principalmente ao racismo. Luizane lembra que, dias antes da morte, ela e Durval conversaram sobre uma outra morte brutal no Rio: do congolês Moïse, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio.

— Há uma semana estaca conversando com meu esposo desse rapaz que foi morto na orla da praia. E eu falei: “nossa, como o mundo está estranho”. Quando eu era criança, no meu ponto de visto, não era tão agressivo. E eu tinha muito medo disso (racismo) chegar na minha porta. E infelizmente chegou. A gente vê na televisão e nunca acha que vai chegar na família, em um amigo próximo. Infelizmente essa violência chegou na porta da minha casa e só aconteceu porque meu marido era negro— ressaltou:

— Eu não aceitei, não vou aceitar e não irei ficar calada. Se aconteceu isso com meu marido, pode acontecer com o restante da família — disse.

Também muito emocionada, a irmão de Durval, Priscila Teófilo, diz que carrega no tom de pele o medo de viver com o racismo e se demostra revoltada com a primeira tipificação do crime. Na ocasião a Polícia Civil indiciou o sargento Aurélio Alves Bezerra por homicídio culposo, por entender que o militar achou que Durval fosse um assaltante. O Ministério Público conseguiu na Justiça mudar a tipificação do crime para doloso e novos depoimentos serão prestados sobre o caso.

— Nunca imaginei que ia acontecer comigo. Que teria que por a cara no jornal para falar que assassinaram meu irmão. Sofremos desde nascemos. Todos nós pretos sabemos como é doido você entrar em um lugar e ter alguém atrás de você. Mas o que ele fez foi covardia. Só espero que o Durval não seja mais um. Não aguento quando dizem que ele agiu em legítima defesa. Meu irmão não estava armado. Que legítima defesa é essa? — questiona Fabiana.

Com informações do Extra

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